Streamers banidos pelo Twitch defendem uso de expressões condenáveis

Que a língua está em constante transformação todos sabemos, contudo ainda existem algumas palavras que continuam levantando discussões a respeito do seu contínuo uso. Para streamers do Twitch e YouTube, ‘gay’ e ‘viado’ são palavras aceitáveis no lugar de estúpido, por exemplo.

O Twitch já agiu contra estes jogadores nas semanas recentes, punindo-os pelo uso da palavra “viado” durante transmissões, o que gerou um debate a respeito da maneira que palavras são usadas. Dois jogadores, moE e Destiny, foram banidos e defenderam o uso destas palavras em um comunicado. Destiny colocou o foco em outros motivos pelo banimento, enquanto moE argumentou que a palavra em questão é passável sem qualquer intenção homofóbica por trás dela.

“Minha intenção nunca foi motivada pelo ódio,” disse moE no Twitter. “Se você me conhece sabe que homofobia é uma palavra que nunca foi associada comigo antes.”

O “pedido de desculpas” do moE não foi bem recebido por vários jogadores e também representantes da mídia, contudo existiram aqueles que argumentaram a respeito da mudança do significado da palavra “gay” e “viado” online. Alguns defendem que estes termos que usualmente são usados em partidas online, e supostamente sem malicia, demonstram nossa compreensão de como palavras são capazes de mudar. É uma justificativa rasa que falha na compreensão de que estas expressões usualmente são utilizadas como sinônimo de “idiota”, “imbecil” e definitivamente não estão resignificando o termo, apenas mudando o alvo.

De acordo com Kim Knight, professor da Universidade do Texas, com foco em dinâmica de culturas, raças, gênero e viralidade:

“A língua está situada culturalmente, historicamente etc. A linguagem está profundamente imbricada nas relações de poder. As palavras são prejudiciais porque se referem a sistemas mais amplos de desequilíbrios de poder, violência e assim por diante. Então, não podemos fazer um argumento convincente para uma evolução das palavras até termos uma evolução dos arranjos de poder que as palavras invocam. ”

Ou seja, transformar o significado de uma palavra vai muito além da compressão rasa de um indivíduo, mas sim do poder que ela mantém sobre determinado grupo. Um que, até o momento, MoE não parece fazer parte.

“O uso da linguagem é certamente afetado pela geração, pelas comunidades discursivas nas quais a pessoa participa e assim por diante”, disse Knight. “Eu ainda estou lutando para entender se chamar algo de ‘extra’ é um elogio! No entanto, aqui é onde entra essa questão de poder novamente. Eu posso não entender o idioma de um grupo, ou se são pessoas mais jovens, pessoas em uma certa profissão, mas se eu entendo a palavra “extra” como gíria não tem implicações reais de poder. Mas, para algumas palavras, as implicações de poder não podem ser ignoradas, mesmo quando estamos falando sobre o uso em diferentes comunidades discursivas.”

Enquanto a palavra não é aceita pelo grupo que sofre com ela e suas implicâncias, é bom que todo gamer siga as normas de conduta dos sites e plataformas que estão.

Política do Twitch afirma:

Conduta odiosa é qualquer conteúdo ou atividade que promova, incentive ou facilite a discriminação, denigração, objetificação, assédio ou violência com base em raça, etnia, nacionalidade, religião, sexo, gênero, identidade de gênero, orientação sexual, idade, deficiência, assistência médica. condição, características físicas ou status de veterano, e é proibido. Qualquer conduta odiosa é considerada uma violação de tolerância zero e todas as contas associadas a essa conduta serão suspensas indefinidamente.

E então gamers, é bom tomar cuidado antes de “dar novo significado” a uma palavra, em que só você entende a nova abordagem.